SOLIS | SANGUINIS
A obra SOLIS | SANGUINIS é uma reflexão sobre o conceito de PÁTRIA, baseando-se nos dois princípios que determinam o direito à nacionalidade: o local de nascimento (Jus Solis) ou o sangue (Jus Sanguinis).
Estes princípios são aplicados de forma distinta no mundo, e podem constituir o fundamento legal para a existência de apátridas – como foi o caso dos judeus, durante a 2ª Guerra Mundial, ou de várias minorias étnicas não reconhecidas pelos estados em que vivem.
Assim, o conceito de PÁTRIA pode despertar fervores apaixonados de apego ou recusa, e toda a escala de sentimentos que se situa entre aqueles dois extremos.
A instalação questiona essa dualidade apresentando sistematicamente uma afirmação e uma negação, em combinações aleatórias, como pontos entre os quais se pode pensar a PÁTRIA, deixando ao espectador a reflexão sobre o seu próprio posicionamento, bem como o posicionamento daqueles que são obrigados a deixar as suas PÁTRIAS, por força de guerras, fome, ou em busca de uma vida melhor, para si e para a sua família.
A instalação foi integralmente desenvolvida em P5.js.
O plano em que se desenvolve a animação generativa identifica o território (SOLIS), como estando dentro da fronteira formada pelas letras da palavra PÁTRIA. De fundo surgem imagens aleatórias, recolhidas da Internet, e processadas para obter efeitos de simetria e dificultar o seu reconhecimento, embora mantendo elementos que remetam para a identificação de um território: doméstico, local, regional, universal.
Sobre o território encontramos os habitantes, numa representam de partículas alusiva às células sanguíneas (SANGUINIS). Eles movem-se no ecrã e são migrantes “anónimos” (cinzentos) fora da PÁTRIA, mas no interior das suas fronteiras (ainda que cada letra seja uma ilha) ganham expressão e visibilidade. As suas cores representam todas as bandeiras possíveis, através de um varrimento de combinações.
Ao atravessar as fronteiras, para fora da PÁTRIA, os migrantes regressam ao anonimato, à massa indistinta dos “outros”, ora encarados como potencial fonte de diversidade e riqueza cultural, ora como invasores de um espaço privilegiado, ou ainda como os mal-amados, que ousaram sair da PÁTRIA em busca de novas vidas, levando o SANGUE para outros SOLOS. Esses “outros” seguem os seus rumos, celeremente, para longe das fronteiras, muitos esquecendo-se até da sua existência.
O não-território, tudo o que fica fora da PÁTRIA, é, curiosamente, a PÁTRIA dos que nele vivem, basta uma mudança de perspetiva…