Igne natura renovatur integra

Por pedroveiga em

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Through fire, nature is reborn whole.

Pelo fogo, a natureza renasce íntegra.

Ou a matéria pura é restaurada pelo espírito – é um lema medieval rosacruciano que representa o trabalho do fogo interno do espírito quando opera livre e sem os limites dos véus que o rodeiam, reduz esses mesmos véus à unidade consigo, por forma a que a natureza pura, original e completa seja restaurada na sua essência primordial. Assim, quando uma pessoa vive inteiramente na luz do fogo ou do espírito divino interior, todos os véus da sua consciência coalescem com o fogo interior, e o espírito original é restaurado, e assim atingida a união com a divindade.

A ilustração do torso é proveniente do “Traité complet de l’anatomie de l’homme comprenant la médecine operatoire”, de Jean Marc Bourgery, e foi produzida por Nicolas Henri Jacob em 1831.

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A ilustração da cabeça é da autoria de Joseph Maclise, do seu livro “Surgical Anatomy”, de 1859.

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A ilustração da fénix é de Friedrich Justin Bertuch, do livro infantil “Bilderbuch für Kinder” e data de 1806.

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A fénix (em grego clássico: ϕοῖνιξ) é um pássaro da mitologia grega que morria entrando em auto-combustão para, passado algum tempo, renascer das próprias cinzas. Outra característica da fénix seria a sua força que a faria transportar em voo cargas muito pesadas, havendo lendas nas quais chegava a carregar elefantes, podendo ainda transformar-se numa ave de fogo.

Teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas, e seria do mesmo tamanho ou maior do que uma águia. Segundo alguns escritores gregos, a fénix vivia exatamente quinhentos anos. Outros acreditavam que seu ciclo de vida era de 97 200 anos. A vida longa da fénix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual. As suas lágrimas teriam propriedades para curar qualquer tipo de doença ou ferida.

Os gregos parecem ter-se baseado em Bennu, da mitologia egípcia, representado na forma de uma ave acinzentada semelhante à garça, hoje extinta, e que habitava o Egito. Segundo a mitologia egípcia, cumprido o ciclo de vida do Bennu, ele construía uma pira de ramos de canela, salva e mirra em cujas chamas morria queimado. Mas das cinzas erguia-se então uma nova ave, que colocava piedosamente os restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com ele à cidade egípcia de Heliópolis, onde os colocava no Altar do Sol.

Atualmente os estudiosos creem que a lenda surgiu no Oriente – um óbvio símbolo de reencarnação – e foi adaptada pelos sacerdotes do Sol de Heliópolis como uma alegoria da morte e renascimento diários do astro-rei. Tal como todos os grandes mitos gregos, desperta consonâncias no mais íntimo do homem. Na arte cristã, a fénix renascida tornou-se um símbolo popular da ressurreição de Cristo.

O poeta persa sufi Farid al-Din Attar, no livro A Conferência dos Pássaros, de 1177, descreve também a fénix:

“Na Índia vive um pássaro que é único: a encantadora fénix tem um bico extraordinariamente longo e muito duro, perfurado com uma centena de orifícios, como uma flauta. Não tem fêmea, vive isolada e o seu reinado é absoluto. Cada abertura em seu bico produz um som diferente, e cada um desses sons revela um segredo particular, subtil e profundo. Quando ela faz ouvir essas notas plangentes, os pássaros e os peixes agitam-se, as bestas mais ferozes entram em êxtase; depois todos se silenciam. Foi desse canto que um sábio aprendeu a ciência da música. A fénix vive cerca de mil anos e conhece de antemão a hora de sua morte.

Quando ela sente aproximar-se o momento de retirar o seu coração do mundo, e todos os indícios lhe confirmam que deve partir, constrói uma pira reunindo ao redor de si lenha e folhas de palmeira. No meio dessas folhas entoa tristes melodias, e cada nota melancólica que emite é uma evidência de sua alma imaculada. Enquanto canta, a amarga dor da morte penetra no seu íntimo e ela treme como uma folha. Todos os pássaros e animais são atraídos pelo seu canto, que soa agora como as trombetas do Último Dia; todos se aproximam para assistir ao espetáculo de sua morte, e, pelo seu exemplo, cada um deles ganha determinação para deixar o mundo para trás e resigna-se a morrer. De facto, nesse dia um grande número de animais morre com o coração ensanguentado diante da fénix, por causa da tristeza de que a vêem presa. É um dia extraordinário: alguns soluçam em simpatia, outros perdem os sentidos, outros ainda morrem ao ouvir seu lamento apaixonado. Quando lhe resta apenas um sopro de vida, a fénix bate suas asas e agita suas plumas, e deste movimento produz-se um fogo que transforma seu estado. Este fogo espalha-se rapidamente para folhagens e madeira, que ardem agradavelmente. Em breve, madeira e pássaro tornam-se brasas vivas, e então cinzas. Porém, quando a pira foi consumida e a última centelha se extingue, uma pequena fénix desperta do leito de cinzas.

Aconteceu alguma vez a alguém deste mundo renascer depois da morte? Mesmo que te fosse concedida uma vida tão longa quanto a da fénix, terias de morrer quando a medida da tua vida fosse preenchida. A fénix permaneceu por mil anos completamente só, no lamento e na dor, sem companheira nem progenitora. Não contraiu laços com ninguém neste mundo, nenhuma criança alegrou a sua idade e, no final da sua vida, quando teve de deixar de existir, lançou as suas cinzas ao vento, a fim de que saibas que ninguém pode escapar à morte, não importa que astúcia empregue. Em todo o mundo não há ninguém que não morra. Sabe, pelo milagre da fénix, que ninguém tem abrigo contra a morte. Ainda que a morte seja dura e tirânica, é preciso conviver com ela, e embora muitas provações caiam sobre nós, a morte permanece a mais dura prova que o Caminho nos exigirá”.

 

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